terça-feira, novembro 15

Desejo

Desejo, primeiro, que você ame,
e que amando, também, seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E esquecendo não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
mas se for, saiba ser sem se desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
que mesmo maus e inconseqüentes,
sejam corajosos e fiéis.
E que em pelo menos num deles
você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
desejo ainda que você tenha inimigos;
nem muitos, nem poucos,
mas na medida certa para que, algumas vezes,
você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
mas não insubstituível. E que nos maus momentos,
quando não restar mais nada
essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante;
não com os que erram pouco, porque isto é fácil,
mas com os que erram muito e irremediavelmente.
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você sendo jovem
não amadureça depressa demais,
e que sendo maduro, não insista em rejuvenescer.
E que sendo velho não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
é preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste;
não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom,
o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra, com o máximo de urgência,
acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos,
injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
alimente um cuco e ouça o João-de-Barro erguer
triunfante o seu canto matinal.
Porque assim, você se sentirá

segunda-feira, novembro 14

DESCULPE-ME

Desculpe-me por te ver chorar
E não fazer muito mais do que fiz
Para te consolar

Desculpe-me por te amar tanto
E não ter força necessária
Para te ajudar nas suas
Horas difíceis, desse mundo.

Desculpe-me, meu amor.
Por ser uma covarde
Querendo fugir de uma palavra
Que tenho medo de dizer

Desculpe-me, por te mostrar
Todos os meus pensamentos
E envolvê-lo com eles, e não explicar
A razão do porque existem

Desculpe-me, meu amor
Por sofrer quando você sofre,
Por aprisioná-lo em meu pensamento
Todas as horas e segundos do dia.

Desculpe-me, meu amor
Por me desculpar de uma forma tão simples assim,
Quando podia explicar-lhe melhor,
Dizendo apenas...
... que eu não posso viver sem você.

sábado, novembro 12

DESAMOR


Sua boca é mel
Suas mãos, plumas que acariciam
Um amargo fel.

Seus olhos, luzes que iluminam
Um caminho obscuro
Ou apenas faróis que mostram sua
Beleza interior?

Seu corpo. Ah! Esse corpo,
Mostra toda uma fortaleza oculta
Uma força oculta do seu ser
Mas que me faz sofrer

Que me faz sofrer,
E o sofrimento aumenta em pensar
Que a cada instante da sua vida
Foi dado para mim e
Não mereço
Pois eu não sei...

... TE AMAR ....


sexta-feira, novembro 11

Da dor que me vai ao peito, só eu sei.
Do que me dói deste jeito, das magoas.
Por que passei.

Das tristezas do abandono, dos males,
Da incompreensão, da amargura, da calunia,
Das marcas da ingratidão.

Do bem pelo mal trocado, de tudo o que fiz ou sou.
Do que disseram, ao lado,
Do cascalho que restou.

Do desconsolo da vida só eu sei.
Da amargura, da ferida, de tudo o que suportei...

Do rio que leva as folhas, do vento que varre tudo,
Da água que me roubaram,
Do choro que ficou mudo.

Das incertezas, dos enganos, de todos,
De tudo enfim, colhi o meu desengano,
E recolhi o meu fim.

quinta-feira, novembro 10

CONSIDERAÇÃO DO POEMA (Carlos Drummond de Andrade)

Não rimarei a palavra sono
Com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
Ou qualquer outra, que todas me convém.
As palavras não nascem amarradas,
Elas soltas se beijam, se dissolvem,
No céu livre por vezes um desenho,
São puros, longos, autênticos, indevassáveis.

quarta-feira, novembro 9

CRIANÇA


Tal qual criança travessa corre peralta de braços a te buscar.
Ansiosa, procura sem jeito, uma forma de agradar.
Um carinho gostoso, um colo macio, um afago, um sorriso maroto a cata de mimo, tenta, perdida um beijo molhado, negado...
Criança mimada volta perdida, frustrada, vazio se abre, fechando o sorriso, trazendo em seu rosto um triste beicinho.
A festa acabou. Deitada, criança mimada, sufoca o tanto que queria dar. Intrusa, vem uma lágrima transforma-se em pranto.
Criança mimada chora calada na esperança do telefone tocar, do pássaro cantar, de você voltar...

terça-feira, novembro 8

Como se fosse uma luz forte
Invadistes o meu céu
E nele começastes a passear
Com o teu brilho ofuscante
Comecei sem querer
A te admirar
Tomastes aos poucos
A imensidão dos meus pensamentos
E vagando lentamente
Deixei que explorasses
Todos os cantos
Sem receio de nada
Deixei que tomastes conta de mim
Agora, exatamente neste momento,
Quero assumir a mesma forma de luz
Que tu és, e ao teu lado
Por fim, vagar neste universo
De sentimentos tão lindos!...


segunda-feira, novembro 7

CARTA

Aqui, tudo é bonito e quieto, a gente
Vai vivendo uma vida sempre igual...
Há um dia que o regato de cristal
De águas turvas ficou devido à enchente...

Os dias têm passado, lentamente,
E um tédio sinto em mim, de um modo tal,
Que às vezes ficou até sentimental,
Lembrando-me de ti, saudosamente...

Quando estavas aqui, tudo era lindo...
Comum doce casal de beija-flores
Vivíamos os dois sempre sorrindo...

Porque não voltas? ...Vem!... De tu voltares,
O céu há de cobrir-se de outras cores...
As flores voltarão pelos pomares!...
 

domingo, novembro 6

CARNAVAL

Ele passou na minha vida vazia,
De boemia e sentimentalismos,
Como passa um ano de tristeza
O relâmpago da alegria
Do carnaval...

Seus braços me envolveram como serpentinas,
Frágeis, de papel,
E se romperam como as serpentinas,
Que se arrebentaram quando o vento sopra,
E se soltam no céu...

Ele passou na minha vida, assim,
Tal como passa na monotonia,
De uma existência banal,
A furtiva beleza e a loucura de um dia
De carnaval...


sábado, novembro 5

BILHETE

Eu hoje acordei rica derrepente:
Foi tua carta que chegou,
Trazendo esse ar fresco, e o colorido
Com que tinges as coisas que te cercam,
E as palavras que colhem, e a alegria
Que espalhas as manchas pela vida
Nesse deslumbramento dos que cantam
Com o coração ainda sem sal nem fel.

Eu hoje acordei rica de repente:
Com as mãos cheias de flores, essas flores
Que nem sabes, colhestes para mim,
E me mandaste neste “ramo verde”
Que floriu sobre a mesa,
A tua canta,
E eu os na jarra do meu coração.



sexta-feira, novembro 4

AUTOPSICOGRAFIA (Fernando Pessoa)

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E as que lêem o que escreve,
Na dor lida, sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não tem.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.


quinta-feira, novembro 3

ÀS VEZES (Luiz Fernando Veríssimo)

Às vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado.
Às vezes nos falta esperança.
Às vezes o amor nos machuca profundamente, e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida tão dolorosa.
Às vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar, tanto quanto precisamos respirar...
É nossa razão de existir.
Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino.
Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.
Às vezes a dor nos faz chorar, nos faz sofrer, nos faz querer parar de viver, até que algo toque nosso coração algo simples como a beleza de um por do sol, a magnitude de uma noite estrelada, a simplicidade de uma brisa batendo em nosso rosto, é a força da natureza nos chamando para a vida.
Você descobre que as pessoas que pareciam ser sinceras e receberam sua confiança, te traíram sem qualquer piedade.
Você descobre que algumas pessoas nunca disseram eu te amo, que outras disseram eu te amo uma única vez e agora temem dizer novamente, e com razão, mas se o seu sentimento for sincero poderá ajudá-las a reconstruir um coração quebrado.
Assim ao conhecer alguém não deixe de acreditar no amor, mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguém que de valor aos mesmos sentimentos que você dá.
Certifique-se de que quando estão juntos aquele abraço vale mais que qualquer palavra.
Esteja aberto a algumas alterações, mas cuidado, pois se essa pessoa te deixar, então nada irá lhe restar.
Tenha sempre em mente que as vezes tentar salvar um relacionamento, manter um grande amor, pode ter um preço muito alto se esse sentimento não for recíproco, pois em algum outro momento essa pessoa irá te deixar e seu sofrimento será ainda mais intenso do que teria sido no passado.
Pode ser difícil fazer algumas escolhas, mas muitas vezes isso é necessário existe uma diferença muito grande entre conhecer o caminho e percorrê-lo.
Não procure querer conhecer seu futuro antes da hora, nem exagere em seu sofrimento, esperar é dar uma chance à vida para que ela coloque a pessoa certa em seu caminho.
A tristeza pode ser intensa, mas jamais será eterna.
A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem...



quarta-feira, novembro 2

As Três Peneiras de Sócrates

Um homem foi ao encontro de Sócrates levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:
— Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!
— Espera — disse o sábio. Antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.
— Três peneiras? Que queres dizer?
— Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres dizer-me é verdade?
— Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.
— A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?
Envergonhado, o homem respondeu:
— Devo confessar que não.
— A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo?
— Útil? Na verdade, não.
— Então, disse-lhe o sábio, se o que queres contar-me não é verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas para ti.