sexta-feira, novembro 4

AUTOPSICOGRAFIA (Fernando Pessoa)

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E as que lêem o que escreve,
Na dor lida, sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não tem.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.


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