quinta-feira, outubro 20

QUANDO


Quando o pano das pálpebras cair sobre o palco fechado das retinas,
Que já não podem ver, e onde passaram todos os bonecos, e
Fantoches, que em vida me ajudaram,
Na pantomima estranha do meu ser...

Quando as ultimas luzes se extinguirem,
Após os derradeiros obstáculos,
E ficarem vazias minhas órbitas
Como os grandes anfiteatros silenciosos
Depois dos espetáculos...

Quando sobre o meu peito as minhas mãos de cera,
Gélidas se entrelaçarem, já sem vida,
Como que se despedindo mutuamente,
Na ultima despedida...

Quando dentro da rocha do meu peito
O coração morrer... Não pulsar mais,
E ficar enterrado no meu corpo,
Como os diamantes no interior da terra,
Trocando a sua vida humana e triste,
Pela vida feliz dos minerais.

Quando sobre os meus lábios entreabertos,
Ficar sorrindo um ultimo sorriso,
Esse mesmo sorriso das estatuas,
E dos corpos que uma alma já não tem...

Mais razoes haveria para o pranto
No instante em que no mundo despertei!
E quem chorou? Ninguém chorou!
No entanto
Que ridículas festas me fizeram,
Até parece que nascia uma rainha!

Que ao vir, portanto o derradeiro dia,
O fim do meu penoso despertar,
Que haja musica, risos e alegrias.
E que eu, apenas eu, tenha o direito,
De, ao deixá-lo na vida, interiormente,
No meu sorriso à noite,
Soluçar...

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